De Que Adianta?

A noite estava calma... o céu, com todas as suas particularidades, um pouco mais encantador que de costume. Havia pessoas à minha volta... todas ocupadas com o que quer que fosse. Eu, no entanto, parecia que era a única que não fazia o mesmo. Tinha a mente vaga... Sentia-me paradoxalmente só. Olhei ao meu redor e nada vi senão um bando de coisas desinteressantes e quando dei por mim já não estava mais naquela sala, caminhava sem rumo... acho que ficar só pareceu-me mais interessante. Entrei no jardim e o aroma doce dos lírios entorpeceu-me. Senti uma sensação tão boa, de paz talvez. No entanto, tão rápido como um relance, não estava mais sozinha. Havia mais alguém ali. Um homem cujo rosto não conseguia ver. Mesmo de costas, percebi que estava bem vestido e parecia não dar-se conta da minha presença. Meus pensamentos embaralharam-se e antes que eu pudesse organizá-los senti seus olhos sobre mim. Claros como o mar, intensos como um beijo, confusos como os meus. Por um instante ficamos assim... nossos olhares fundiram- se , exploraram- se. Havia algo diferente naqueles olhos, tão intrigantes. Um desejo de Arlequim, e um amor de Pierrot. Um êxtase tomou-me...e uma voz tão forte envolveu-me. E o calor da aproximação anestesiou-me ainda mais. Como era belo o seu sorriso! Como era doce a sua voz! E falava coisas lindas... Senti nascer ali um sentimento nunca antes sentido. Um amor, nunca antes vivido! Se nossa “história” tiver início, meio e fim neste momento, pouco me importa. Pois este instante de amor com ele vale mais que toda uma vida com qualquer outro! Afinal, de que adianta ter uma vida se não tiver um amor?